terça-feira, 18 de junho de 2013

IRECÊ/BA - 30 e 31/5 A 2/6/13

Já virou ideia comum o encontro no Rei da Pamonha para tomar um café gostoso e seguir viagem para algum encontro motociclístico ou passeio em geral. Dessa vez marcamos encontro com Flávio Coelho e a viagem foi pra Irecê/BA, terra do feijão.

Aliás a rodovia chamada de Estrada do Feijão é a que pegamos para chegar até lá, uns 470 km. Uma boa estrada, num primeiro trecho até Baixa Grande tem poucas curvas e longas retas, mais pra frente é preciso se preocupar com as perigosas curvas que já levaram alguns motociclistas para o paredão.

 Foram uns 470 km de boa estrada, chegamos por volta das 12h00 e fomos direto para a área do evento e de lá para o nosso condomínio provisório. Dispomos nossas barracas, trocamos de roupa, almoçamos e voltamos para o evento. Para nossa surpresa alguns amigos também já haviam chegado e junto com toda essa alegria Braga e Su também chegaram. O pessoal queria ir para o camping e nós os levamos, logo o nosso condomínio já estava aumentando a vizinhança. A essa altura a escola que nos serviria de moradia estava repleta de outro tipo de aprendizado, o aprendizado da convivência, o qual a escola também ensina. ("Numa folha amarela eu desenho um sol amarelo... E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo... Giro o lápis em torno da mão e lhe dou uma luva... E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva..." Aquarela - Toquinho).
 Conversa vai, conversa vem, arruma dali, estica daqui e a noite chegou rapidinho. Era a primeira noite do Forrock 2013 - Encontro Nacional de Motociclistas a expectativa era grande, porque no ano passado o Forrock 2012 foi muito legal. Numa grande área, o movimento tímido de populares e de motociclistas logo é percebido, talvez pelo longo feriadão afinal era quinta-feira... Um pouco desanimados, voltamos para o camping..., o corpo pedia descanso.
Os planos para o dia de sexta-feira eram grandiosos e precisávamos de um bom café da manhã. Nós, Minho e Su, encontramos uma padaria/delicatessen de deixar muitas no chinelo. A Pães a Lenha era tudo de bom, do atendimento aos produtos, impecável. Nos refestelamos!! Estávamos prontos para "achar" nossos caminhos, descobrir mais um pedaço do Rio São Francisco... ("Uma luz azul me guia. Com a firmeza e os lampejos do farol..." Descobridor Dos Sete Mares - Tim Maia).
O céu puramente azul, o sol tinindo lá no alto, uma paisagem que mistura um pouco da caatinga, da chapada e serras nos guiava por uma boa estrada plana que seria uma longa reta de 110 km não fossem as duas únicas curvas no meio do caminho... A primeira muito leve, quase imperceptível nas proximidades de Itaguaçu da Bahia/BA e, a segunda, bem mais extensa nos deixa na entrada de Xique-Xique/BA ("No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho..." No Meio do Caminho - Carlos Drummond de Andrade).
Xique-Xique é uma cidade relativamente nova - 85 anos, bem pequena, à margem direita do São Francisco. Seguindo o caminho beirando o rio, dezenas de embarcações em um movimento incessante de chegada e saída o que se constitui num grande porto para o comércio e transporte para a região. Muito próximo a esse porto fica o mercado municipal, não muito limpo, em que o comércio principal é a venda de peixes, dentre eles o tambaqui e piranhas. Foi no mercado que conhecemos Sin, um motociclista cheio de estilo, do Rio de Janeiro "perdido" alguns meses por nossas terras e o convidamos a ir até Irecê participar do encontro.

Não ficamos muito tempo, nosso intento era ir até o município de Barra/BA e chegar até mais uma cidade ribeirinha, Itacoatira. Pois bem, pegamos de volta a estrada, 80 km de boa estrada até a balsa que atravessa o Rio São Francisco e funciona por 24 horas ininterruptamente com travessia de pedestre, carros pequenos, motos e caminhões de carga pesada. Por R$3,00, atravessamos com a moto. Já em Barra, tivemos mais um encontro inusitado com motociclistas a caminho de Xique-Xique oriundos de Luiz Eduardo Magalhães,o Rota 020.
A nossa missão estava quase chegando ao fim não fosse a interferência externa de informações desnecessárias, que só vieram para atrapalhar nosso roteiro. Apesar de estarmos com um roteiro previamente muito bem estudado, aceitamos a opinião de um motociclista local e, ao invés de pegar uns 70 km de asfalto, fomos até o cais e pegamos mais uma balsa (?) para o outro lado da cidade. Não foi dessa vez que fizemos uma passeio pela cidade... A balsa, na verdade, era um barco pequeno em que no lado há um espaço para as pessoas aguardarem a travessia, no centro um espaço para um veículo e umas três motos. A subida e descida são na areia por meio de duas pranchas de madeira e a travessia custa R$2,00, por moto. A travessia é bem rápida e mais uma vez vimos a vida se apropriar do Velho Chico. Enfim, chegamos ao outro lado para descobrir mais um pedacinho do nosso querido rio... ("Pois bem cheguei. Quero ficar bem a vontade na verdade eu sou assim. Descobridor dos 7 mares, navegar eu quero...").

A dificuldade de descer da barca não foi mais fácil do que a subida, saímos direto na areia e singramos por dentro da mata, por caminhos ora de areia, ora de terra batida, margeando o rio. O calor, a poeira e o completo desconhecimento de onde estávamos nos deixou um pouco apreensivos. Logo chegamos em uma vila, Jauá e aí Rogério sentiu-se mais à vontade. Paramos num boteco de beira de estrada, na verdade uma choupana, como se fosse um oásis no meio daquele calor e areal. Resolvemos ficar um pouco, pegar umas informações e, ficamos tão à vontade naquela venturosa sombra, que bebemos água gelada (do Rio São Francisco!), chupamos melancia oferecida pelo morador e comemos um peixe frito com farinha que mais pareceu-nos um manjar dos deuses. Foram minutos enriquecedores de informações e de conversa.
 
Agora parecia estar fácil..., passamos por mais um vilarejo, Curralinho e o próximo seria Itacoatiara. O problema foi que não percebemos a bifurcação ao contrário e o resultado foi que estávamos perdidos, literalmente, em meio a uma vegetação de caatinga, sem passar um pé de gente, sob um sol de queimar o juízo e um caminho nada, nada amigável. A Ténéré e a Transalp pareciam estar aguentando firmes toda aquela areia e pedras, quem ficava atrás só recebia poeira e pedrinhas que saltitavam a medida que passávamos por ela. Num dos areais, Minho inadvertidamente subiu no "camelo" e desequilibrou a sua Esmeralda. Não foi transtorno e logo eles estavam novamente em pé, cheios de areia, mas em pé. Depois do susto, continuávamos perdidos, as vezes parecia que estávamos dando voltas e resolvemos seguir a fiação da energia elétrica até que chegamos em umas casas também ribeirinha ao São Francisco, mas não era Itacoatiara.

Com um pouco de conversa com os moradores o caminho foi definido: "é só seguir o curral", parecia ser tão fácil... rsrsrs. Seguimos o curral, por um caminho tal qual o que já estávamos nos acostumando, mas, no meio do caminho havia uma lama com argila e Minho mais uma vez deixa sua Esmeralda no chão. Dessa vez, um pouco mais sério, o deixou desapontado, com o espelho retrovisor esquerdo quebrado e o pedal da marcha entortado. Graças a Deus, nas duas quedas, nem Minho e nem Su saíram com machucados sérios. Um motociclista local que havia visto a cena, aproximou-se, nos confortou de que ali era um local comum caírem, ajudou a desentortar o pedal da marcha e nos guiou até à vila tão desejada.



A vila de Itacoatiara, pequenina, tranquila, como outra qualquer ribeirinha ao Velho Chico tem sua rotina vinda do rio, com pescaria, água para beber, lavadeiras. O rio estava com o nível muito baixo e era possível ver pequenas ilhas de areia. Nesse trecho percebemos que a água é bem escura, porém limpa, contrastando com o azul que vimos em Penedo, Piranhas e em outros pontos do rio.Tomamos um banho e nosso guia nos levou até um caminho seguro para que a gente não se perdesse e chegássemos com segurança no asfalto.
Dali pra frente seria mais uns 70 km até chegar de volta a Barra. Na verdade, seria esse caminho que estava nos planos de Rogério..., mas, enfim, tornamos a atravessar o rio e quando chegamos do outro lado o sol já estava se escondendo, era o sinal de que pegaríamos os quase 180 km de volta no escuro numa estrada que apesar de boa é muito perigosa devido aos animais soltos na pista.
Chegamos bem à noite em Xique-Xique e fomos direto para o evento que, ainda, não havia emplacado. Depois de um dia cansativo e de quase desespero resolvemos ir descansar. ("Uma lua me ilumina. Com a clareza e o brilho do cristal. Transando as cores desta vida. Vou colorindo a alegria de chegar...").
O sábado tiramos para ver os problemas em Esmeralda. Tomamos um café no camping oferecido pelos organizadores do evento e seguimos pela cidade em busca de lavar as belas motocas, colocar um retrovisor novo na Transalp e dar uma recauchutada na aparência de Minho, pra levantar o moral dele.
Quando terminamos tudo já era meio-dia e fomos até uma comemoração do Rota da Amizade, nossos amigos já estavam lá e o momento era para interagir, comer uma deliciosa feijoada e deixar a alegria tomar conta da gente.
No final da tarde passeando pela cidade encontramos com Sin, lá de Xique-Xique, que atendeu ao nosso convite e foi participar do encontro em Irecê. Tomamos um sorvete, comemos pães doces vendidos em carrinhos e voltamos para o camping. Já era noite, a terceira noite do Forrock 2013 e estávamos cheios de expectativas. Nesse ano, o evento não emplacou como no ano passado, parecia muito mais a festa da cidade do que uma festa de motociclistas para motociclistas como costumamos dizer e até mesmo longe de ser um encontro nacional de motociclistas. Não fosse a presença de amigos que encontramos e do ótimo camping, talvez o insucesso tivesse sido maior. Entendemos o esforço de organizadores para nos oferecer a melhor festa, mas algo não deu certo e o sucesso anterior não foi repetido. Não queremos criticar com o intuito de desmerecer, pelo contrário, a intenção é apontar para servir como oportunidade de melhoria para o próximo.
O domingo chegou e junto com ele a hora de voltar pra casa. Arrumamos a moto, Minho e Su seguiram pra Vitória da Conquista/BA e nós, juntamente com Flávio Coelho, seguimos juntos de volta. A tranquilidade da volta foi tal qual a vinda apesar da chuva que pegamos próximo a Ipirá/BA. Quando já estávamos em Feira de Santana/BA, a moto de Flávio deu pane, estouro alguma coisa no motor e o óleo começou a vazar. Após acionar o seguro, a moto e ele foram levados até em casa, em Salvador. Pensávamos que era o final de viagem..., era! Não foi..., já mais próximo de Salvador, a corrente da Açucena pulou da coroa e partiu a emenda... aff! Não dá pra entender... Um pouco de estresse, um pouco de paciência, corrente reparada e voltamos pra casa. Ainda assim, tudo deu certo! ("Pois bem cheguei. Eu quero ficar bem a vontade na verdade eu sou assim. Descobridor dos 7 mares navegar eu quero").