segunda-feira, 4 de novembro de 2013

RUMO AO OIAPOQUE - PARTE II - DE SÃO LUIS/MA AO OIAPOQUE/AP

Continuando...

8. Sétimo dia: 18/9/13 (quarta-feira) - Bebezão nos escoltou, às 5h00, até o embarque da balsa. A travessia (R$33,00 - moto com garupa) de 1h30 foi passada dormindo, recuperando o sono... Desembarcamos ainda no Maranhão a caminho de Belém/PA, muita estrada pela frente, um pouco de buraco e atravessamos mais uma divisa: MA/PA. 
Já em terras paraenses, umas surpresinhas nos deixaram bastante aperreados..., o pneu novo da moto de João, furou! Por sorte, bem próximo de duas borracharias. Mais à frente, na cidade de Capanema/PA, a roda de Açucena apresentou um barulho estranho: uma folga no cubo do rolamento e o pneu da moto de João furou novamente. Fomos na oficina de Basileu, que nos atendeu muito bem e resolveu o problema com uma simples cola maluca. Precisávamos chegar até as 19h em Belém para embarcar as motos. Em pleno trânsito intenso das 17h00 de uma capital, chegamos em Belém direto para as docas, mas precisamente no porto Líder, para embarcar no Ana Beatriz III, de forma a aproveitar a maré baixa. O porto tem uma infraestrutura bem precária e fica num local nada ameno, na periferia de Belém, e fomos alertados para não sairmos por ser um bairro bem perigoso.
Estávamos bem cansados... Acomodamos as nossas motos (improvisam umas rampas de madeiras e todo tipo de carga é empurrado para dentro do barco), amarramos as redes (nós levamos redes e cordas, mas a venda desses dois apetrechos é facilmente oferecido aos viajantes) e as bagagens (ficam arrumadas próximas as redes). Haviam pouco passageiros e ficamos bem à vontade... É possível escolher entre a área climatizada (nossa opção) ou a aberta, o valor é o mesmo. As motos ficam no pavimento inferior, juntamente com outras cargas. Além das nossas motos, mais umas quatro, sendo uma de um casal de motociclistas que estava dando uma volta ao mundo, e também um carro pequeno. Já era noite, fizemos uma rápida refeição e experimentamos pela primeira vez dormir em rede numa embarcação.

9. Oitavo dia: 19/9/13 (quinta-feira) - Uma noite tranquila no barco e um dia e noite inteiros pela frente navegando pelo Rio Amazonas... Com o dia, vieram também mais passageiros e as redes se multiplicaram formando um lindo colorido. A passagem dá direito ao café da manhã, mas as outras refeições são pagas, realizadas dentro do barco, no self service ou no bar/lanchonete que fica no alto da embarcação. Esse mesmo bar à noite se transforma numa "boate", com luzes azuis e muita música, casais conversam, namoram, mas não dá pra incomodar. 

Presenciamos um dos mais lindos por do sol! Foi incrível ver o sol descer por trás da floresta amazônica. Algumas paradas na noite (embarque de carga de açaí,apreensão de carga ilegal de madeira e fiscalização da Guarda Costeira) postergaram nosso desembarque no dia seguinte. Durante o percurso é comum embarcações menores levarem mais passageiros para o barco. Vimos também as casas em palafitas da população ribeirinha, que em algumas localidades formam vilas, com caminhos por palafitas, igrejas, mercados, portos, escolas. Em cada casa, uma canoa ou lancha estacionados, na passagem dos barcos crianças, mulheres e homens ficam à espera de doações lançadas ao rio pelos viajantes. É o cotidiano do rio...
10. Nono dia: 20/9/13 (sexta-feira) - Desembarcamos no porto de Santana/AP (de estrutura tão precária quanto o porto líder, em Belém/PA), por volta das 16 horas, depois de alguns problemas para sair com as motos, pois o carregamento de açaí no meio da travessia deixou as motos rodeada de cestos de açaí. Nesse momento ficamos sabendo que fomos ludibriadas pelo agente de passagens que nos vendeu a passagem da moto pelo dobro do valor de embarque. Ou seja, o valor correto de R$200,00, nós pagamos R$450,00 através de Sr Udivan (aeducação me induz a chamá-lo de senhor, mas não esqueçam esse nome e se livrem dele!!!) e foram três motos que pagamos antecipadamente mais R$130,00 por vaga de rede.
 Enfim, ficamos enfurecidos, mas aliviados de tirarmos as motos do navio. Com a retirada de parte da carga da frente das motos, por rampas improvisadas, primeiro saiu a moto de Zé, depois a Miss Deisy, de João e, por fim, Açucena. Profeta, do MC Latitude Zero, de Macapá/AP, nos recebeu e nos levou para a sua casa, onde fomos muito bem recebidos pelos seus pais, João e Dudu. Nos arrumamos e Paulo e Zeca, membros do MC, nos guiou por um passeio pela cidade.
Nosso maior deslumbre foi pela imaginária Linha do Equador, a Latitude Zero e estar ao mesmo tempo nos Hemisférios Norte e Sul. Como diz a placa no marco zero, um obelisco com uns 30 m e uma abertura circular no alto, "sinta a sensação de estar nos dois hemisférios" e como uma mágica estávamos nos dois lados ao mesmo tempo. na época do equinócio a luz do sol passa por essa abertura e incide sobre a linha do equador. Mais uma vez nos lembramos das aulas de Geografia. Enfim, estávamos na "capital do meio do mundo", a única capital brasileira cortada pela linha imaginária do equador! Imaginária, que faz a nossa mente fluir, como num equilíbrio distante que nos deixa tão próximos invasores dos limites da imaginação. ("Esse imenso, desmedido amor. Vai além que seja o que for. Vai além de onde eu vou. Do que sou, minha dor. Minha Linha do Equador..." Linha do Equador - Djavan).
11. Décimo dia: 21/9/13 (sábado) - Dia de cumprir a meta da Rota Rumo ao Oiapoque. Saímos as 5h00 (lá o dia demora mais pra clarear), foram 425 km de ótimo asfalto e dois postos para abastecimento, 113 km de terra, muita poeira e calor e 51 km finais de bom asfalto até alcançarmos a cidade de Oiapoque/AP.  Profeta fez questão de nos acompanhar nos primeiros 100 km. Fizemos o primeiro abastecimento na cidade de Tartarugalzinho, a gasolina era a bagatela de R$3,22/litro e, até então, estávamos todos limpos, nós e as motos .


A estrada de terra era o maior desafio, principalmente para Zé e João, "marinheiros" de primeira viagem em estradas desse tipo. Quando alcançamos o único percurso a ser feito na terra, já havíamos passado os excelentes 450 km de asfalto. Não mais que de repente o asfalto liso se transforma em terra... O pior de enfrentar os 113 km de terra foi o calor intenso, numa estrada sem estrutura e às vezes sem nem um barraco para comprar água, aliás o único restaurante da estrada é numa localidade de nome Cassiporé, e a poeira que deixou a todos nós em estado lastimável. Na parte de asfalto não percebíamos o tanto de pontes que passamos, mas na parte de terra foi possível contar uma a uma e foi um total de 23 pontes de madeira, passando por cima de igarapés cristalinos. Por "acreditar" no GPS, passamos do último ponto para abastecimento na cidade de Calçoene. Um motociclista da região nos informou que 10 km adiante havia uma pessoa que vendia gasolina. Pagamos R$4,00/litro para chegarmos com tranquilidade em Oiapoque. Um misto de euforia, cansaço e desmitificação caiu sobre nós.

 
Durante meses de muita leitura, discussão, expectativas e apreensões, chegamos a cidade de Oiapoque, município do Estado do Amapá. Fomos recebidos por Márcio Bahia, soteropolitano residindo na cidade, do MC Old Mates. Nos instalamos no Hotel Floresta, tiramos toda a poeira e fomos comer... Pizza!!
12. Décimo Primeiro dia: 22/9/13 (domingo) - Nos demos conta que estávamos na cidade mais ao norte do Brasil, a cidade de Oiapoque. O nome de origem tupi guarani quer dizer "casa dos Waiãpi", uma alusão a moradia dos primitivos habitantes. O nosso dia de achadeiro começou navegando pelo Rio Oiapoque (tão mencionado na escola ao referir-se ao extremo do Brasil e que descobriu-se mais tarde não ser mais o ponto mais ao extremo norte), que faz divisa com a Guiana Francesa, um país francês na América do Sul, portanto parte da Comunidade Europeia. Pela segunda vez atravessamos uma fronteira, dessa vez colocamos a botinha na cidade guianesa de Saint Georges. 
Pegamos a tracaia, por R$20,00/pessoa, fomos e voltamos pelo Rio Oiapoque. Passeamos, compramos (tudo em Euro), degustamos e voltamos para o Brasil. A Guiana francesa é um misto de idiomas francês (oficial), português e chinês. Na cidade só é possível andar livremente até uma distância de 100 m. A partir daí as exigências extrapolam o bom senso, além do visto pago em euro, um seguro saúde internacional e do veículo são exigências com valores vultosos. Márcio e Larissa nos levaram para conhecer a ponte binacional (a ser inaugurada no dia 12/10/13, pela presidente Dilma) que ainda não está sendo utilizada porque o lado brasileiro falta cumprir algumas exigências, hoje a travessia para a Guiana só é possível pelas tracaias ou balsas.
Fomos em seguida para um balneário e passamos o resto da tarde desfrutando do rio e da tirolesa (apenas Carmen e Maria tiveram disposição para descer os 300 m penduradas... rsrsr). Aproveitamos para ofertar ao casal nossa bandeira da Rota Rumo Oiapoque como forma de agradecimento pela acolhida. Para finalizar o passeio, fotografamos no marco zero do começo do Brasil. Um monumento com quatro faces nas quais estão escritos alguns versos do nosso hino... Uma histórica homenagem a nossa "pátria amada, Brasil!". A cidade é muito pequena, parece estar a se desenvolver, por outro lado, tem uma natureza maravilhosa a ser conhecida, como a Serra de Tumucumaqui. Voltaremos lá, certamente...
13. Décimo Segundo dia: 23/9/13 (segunda-feira) - A apreensão por pegar novamente a estrada de barro nos fez acordar mais cedo de forma a pegá-la ainda com o sol fraco. Por sorte, havia chovido na noite anterior, quando saímos ainda chovia pouco, e nos primeiros km a poeira foi amenizada. Como a volta é sempre mais fácil, por já conhecermos o caminho, rapidamente percorremos todo o trajeto até Macapá, porém não escapamos da poeira que nos deixou mais uma vez com as roupas e caras empoeiradas. Ossos do ofício... rsrsr. Voltamos à casa do Profeta, lavamos nossas roupas e as motos tomaram um belo banho. Agradecemos a acolhida e apoio de Profeta e seus pais e oferecemos o troféu Vírus da Liberdade, certos de que firmamos mais a irmandade motociclistica. O resto do dia foi só de descanso...

14. Décimo Terceiro dia: 24/9/13 (terça-feira) - Através de Profeta compramos nossas passagens de volta, agora com um valor mais justo: R$250,00, por moto e mais os R$130,00, por vaga de rede. Mais uma vez, Profeta nos acompanhou até o desembarque nos despedindo e mais uma vez nos sentindo agradecidos. Embarcamos nós e as motos (Zé permaneceu em Macapá com a esposa e retornou direto para Salvador) no mesmo navio Ana Beatriz III, colocamos nossas redes e nos preparamos para mais uma noite e um dia vindouro de viagem... Tivemos mais um presente da natureza: outro por do sol navegando pelo Rio Amazonas.
 15. Décimo Quarto dia: 25/9/13 (quarta-feira) - A volta foi um pouco mais rápida, estávamos a favor da correnteza e o barco com pouquíssima carga. As palafitas da população ribeirinha ainda nos chamam a atenção. Chegamos por volta das 15h00 e o pessoal dos Araras de Aço foi nos "resgatar" até a casa de nosso casal amigo, Elias e Bete.
Fomos recebidos com muita alegria e convidados a participar de um churras e da reunião semanal dos moto clubes, uns cinco, para tomada de decisão sobre o Pará Moto Fest. Revemos nossos amigos Breno e Ivan, do Highlanders, Coringa, do Araras e fizemos novas amizades. Aproveitamos o momento para agradecer ao Araras de Aço e oferecemos o troféu Vírus da Liberdade.

... Até a próxima semana...

Um comentário:

  1. Parabéns ao casal que é um exemplo de vida ,sabem de fato viver , que Deus continue abençoando a vida de vcs, abraços da minha familia e do moto grupo voo rasante, Feira de Santana-Ba

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